segunda-feira, 23 de abril de 2012

"Para o cidadão ou empresa, ter que optimizar a utilização dos seus recursos e da energia é um factor crítico que não pode ser negligenciado"


A LIPOR foi distinguida na categoria “Empresa Eficiente”, com o Prémio Energy Efficiency Awards, no âmbito do Barómetro da Eficiência Energética Portugal 2010. Qual tem sido a estratégia adoptada em matéria de eficiência energética?

As preocupações com as questões energéticas têm feito parte da vida da LIPOR na última década. Desde 2002, com o início da certificação ambiental das diversas instalações da LIPOR, segundo a norma ISO 14001, a publicação do Plano Estratégico para a Gestão Sustentável de Resíduos 2007 – 2016 e a implementação da Estratégia 2M – menos resíduos, menos carbono [resultado de uma reflexão em torno dos riscos e oportunidades que as alterações climáticas representam para a organização e da forma como os mesmos podem ser integrados na estratégia de negócio], a questão assumiu ainda maior relevância e, por isso, a distinção na categoria “Empresa Eficiente”, com o Prémio Energy Efficiency Awards, no âmbito do Barómetro da Eficiência Energética Portugal 2010, foi compensadora e um motivo de orgulho para todos os colaboradores da organização.

Neste âmbito, a estratégia assenta na aposta nas energias renováveis e eficiência energética. Nas energias renováveis, com a aposta na energia solar, com a instalação de painéis solares e fotovoltaicos – projecto em fase inicial – e o aproveitamento do biogás produzido nos aterros sanitários, com vista à sua valorização energética – em Julho de 2008 ficou concluído e entrou em funcionamento o projecto de aproveitamento energético do biogás no Aterro de Ermesinde e, em Maio de 2009, o projecto de aproveitamento energético do biogás no Aterro de Matosinhos. Juntamente com a Central de Valorização Energética, a implementação destes projectos permitiu à organização dispor de três locais ligados à Rede Eléctrica Nacional, produzindo cerca de 28Mwh de energia renovável. Na área da eficiência energética, a LIPOR trabalha diariamente com o intuito de determinar como e onde se consome a energia e se esse consumo é o mais adequado.

De modo a gerir todas estas questões de forma mais estruturada, em 2010 foi criado um grupo interno para trabalhar esta questão – Grupo da Energia, grupo que integra colaboradores de diversas áreas e que tem como objectivo primordial efectuar a gestão da energia na organização.

Com o cálculo da pegada carbónica da LIPOR, deu-se início a uma nova etapa no âmbito da eficiência energética. Desde essa altura, o que mudou nas vossas actividades diárias, de modo a diminuir essa mesma pegada?

A LIPOR determinou, pela primeira vez, a sua pegada carbónica em 2007, mas relativa à sua actividade de gestão de resíduos do ano de 2006, sendo este último o ano considerado como ano base no que respeita à estratégia climática da LIPOR. Esta base de trabalho é fundamental para conhecer, de forma completa e bem caracterizada, as emissões libertadas fruto da actividade da LIPOR. A LIPOR compromete-se a reduzir, face a 2006, as suas emissões de CO2 em 12% em 2012, em 16% em 2016 e em 20% em 2020.

A resposta da Estratégia 2M, e a sua implementação, está assente em 3 importantes eixos: primeiro, Conhecer – avaliar as emissões de GEE directamente ligadas à actividade de gestão de resíduos e actividades complementares (determinação da Pegada Carbónica LIPOR e respectiva actualização em ciclos temporais pré definidos); segundo, Agir – identificar e desenvolver projectos e iniciativas para a diminuição da Pegada Carbónica, através de medidas de eficiência energética, racionalização e mecanismos de compensação de emissões; terceiro, Mobilizar – fomentar a literacia dos cidadãos na temática dos GEE e das alterações climáticas, através da sensibilização, e aumentar a participação no projecto. É uma questão global, mas que deve ser combatida a nível local.

Desde o arranque deste projecto, temos trabalhado para melhorar o nosso desempenho e diminuir as emissões de GEE pelas quais somos responsáveis, fruto da nossa actividade diária. De 2006 a 2010, conseguimos reduzir a nossa pegada carbónica em 7,51% e, de 2009 para 2010, conseguimos atingir uma redução de 4,43%. Estes resultados fazem-nos acreditar que estamos no bom caminho e que conseguiremos atingir já o primeiro objectivo em 2012 – redução de 12%.

Para isso têm contribuído vários projectos…

Vários projectos foram implementados, desde a substituição de telhas no Centro de Triagem por telhas translúcidas que permitem uma menor necessidade de recurso à energia eléctrica, a utilização de biodiesel na frota LIPOR, sensibilização e informação interna aos colaboradores a apelar para a adopção de melhores práticas, um trabalho intenso em escolas sobre a temática das alterações climáticas, racionalização energética com a desactivação de algumas luminárias, dinamização de plantações de árvores, incorporação de sensores de movimento para activação da energia eléctrica, valorização do biogás, campanhas de sensibilização à população em geral, entre outras.

Compensamos ainda as emissões inevitáveis, que resultam da promoção de eventos e da utilização da frota interna, da LIPOR. A compensação das emissões resultantes da promoção de eventos de 2010 decorreu em território nacional, no Parque Nacional Peneda Gerês. A compensação das emissões resultantes da frota decorreu em território internacional. Para o efeito, foram adquiridos 380 créditos de carbono verificado (VER’s e VCS Standard), do projecto “Biomassa Brasil”, que utiliza resíduos das indústrias madeireira e do papel locais para alimentar uma caldeira e turbina. Estes resíduos vêm substituir a necessidade de utilizar derivados de petróleo na caldeira e assim reduzir a quantidade de electricidade consumida da rede. A caldeira a biomassa produz vapor de alta pressão que é depois utilizado para produzir electricidade. A biomassa é um combustível considerado neutro em carbono por sequestrar dióxido de carbono da atmosfera no seu crescimento.

Que diagnóstico pode ser feito ao projecto de valorização de óleos alimentares usados, na Área Metropolitana do Porto, com vista à produção de biodiesel?

A LIPOR está empenhada, juntamente com os municípios associados, em implementar uma Rede de Recolha Selectiva Supramunicipal de Óleos Alimentares Usados (OAU) na sua área de intervenção. Com esta estratégia da LIPOR o que se pretende é: dotar os municípios com equipamento adequado (oleões) para deposição de OAU, de acordo com as exigências do DL nº 267/2009 de 29 de Setembro; envolver os cidadãos na correcta deposição destes resíduos; sensibilizar a população para a adopção das melhores práticas a nível da gestão dos OAU; demonstrar as vantagens da reciclagem dos OAU, nomeadamente na produção de biodiesel, o que permite melhorias a nível de impacto ambiental; garantir um destino final adequado aos OAU; contribuir para o cumprimento dos objectivos da política energética, para a redução das emissões de GEE e para o cumprimento do Protocolo de Quioto.

Este projecto resulta de uma parceria entre LIPOR, Municípios e EGI – Gestão de Resíduos, esta última entidade responsável pela manutenção e recolha dos oleões e pela valorização dos OAU, que serão transformados em biodiesel. Actualmente encontram-se instalados 198 oleões na área de influência da LIPOR. Estamos em fase de arranque do projecto, mas o balanço que poderemos fazer é bastante positivo, pela instalação de oleões em número superior ao previsto na legislação, pela oferta à população de infraestruturas adequadas para deposição de OAU e pelo facto destes resíduos serem transformados num novo produto, o biodiesel.

É possível quantificar a redução do consumo de energia eléctrica alcançada desde que foram implementadas medidas como a substituição da cobertura do Centro de Triagem por telhas translúcidas, a eliminação de luminárias nas vias da LIPOR ou a substituição dos aparelhos de ar condicionado, bem como o retorno do investimento efectuado?

Temos estimado os ganhos pelas medidas implementadas. A título de exemplo, a substituição de telhas no Centro de Triagem permitiu poupar 55.000 kWh/ano e evitar 32 t CO2e/ ano de emissões; a desactivação de luminárias nas instalações permitiu poupar 33.000 kWh/ ano e evitar 20 t CO2e/ano; a utilização de biodiesel (a 30%) na frota da LIPOR evita a emissão de 10,5 t CO2e/ano; e a valorização do biogás permite a produção de energia superior a 6.000.000 kWh e as emissões evitadas são superiores a 3.000 t CO2e.

O vosso edifício administrativo foi alvo de um estudo que permitiu o levantamento das luminárias existentes, nomeadamente com vista à implementação de um sistema inteligente de controlo e gestão do fluxo luminoso, destacando-se assim as TI enquanto aliado nesta tarefa de reduzir custos com a energia. Esta medida integrou algum objectivo de certificação do edifício?

Face à legislação em vigor, o nosso edifício administrativo sede não se encontra abrangido pelo Sistema de Certificação Energética de Edifícios. Contudo, no âmbito da melhoria contínua, a LIPOR decidiu proceder à substituição do sistema de iluminação deste edifício. O antigo sistema de iluminação tinha cerca de 10 anos de vida e apresentava algumas limitações. A sua substituição por um sistema inteligente de controlo e gestão do fluxo luminoso permitiu diminuir significativamente o desperdício, aumentar o conforto dos colaboradores que trabalham neste edifício e, obviamente, poupar dinheiro.

Como tem sido possível sensibilizar os colaboradores e, sobretudo, envolve-los na meta da eficiência?

Para envolver os colaboradores, a LIPOR aposta fortemente em sensibilização e formação. Foram colocados autocolantes a apelar à racionalização energética – em todos os interruptores de luz, monitores de computadores, aparelhos de ar condicionado – e à poupança de água. Anualmente todos os colaboradores são incluídos em acções de formação sobre os temas das alterações climáticas, eficiência energética e optimização de processos. Nestas sessões, além do carácter formativo e educativo, é referido o ponto de situação relativo à Estratégia 2M e ao desempenho da LIPOR a nível de emissões de GEE para a atmosfera.

A consciência ecológica é hoje muitas vezes suplantada pela consciência económica. A eficiência energética deve ser considerada uma inevitabilidade, na medida em que também é essencial às empresas dispor de energia a preços competitivos?

O actual contexto macroeconómico mundial está, inevitavelmente, a acelerar uma alteração no comportamento das pessoas perante o consumo energético. O aumento da consciência das pessoas leva à utilização mais eficiente da energia, gerando benefícios para o ambiente e para a pessoa. Já não se trata de uma opção, mas de uma obrigatoriedade. Para o cidadão individual ou empresa, ter que optimizar a utilização dos seus recursos e da energia é um factor crítico que não pode ser negligenciado. De modo a sermos capazes de aumentar a nossa competitividade, entre os diversos custos operacionais, as empresas precisam de dispor, inevitavelmente, de energia a preços competitivos e estáveis.

Quais os próximos desafios da LIPOR em matéria de eficiência energética?

A aposta na construção sustentável, a implementação de uma instalação fotovoltaica com a potência de 250kW para a produção e venda de energia eléctrica à Rede Eléctrica Nacional e a continuidade do trabalho que tem vindo a ser efectuado com vista a melhoria contínua da eficiência energética na organização são os grandes objectivos da Organização a curto/médio prazo.

No âmbito da eficiência energética, de realçar que, nos últimos dois anos, as instalações da LIPOR, em Baguim do Monte, foram alvo de auditorias energéticas, de acordo com o definido pelo Decreto- Lei nº 71/2008, de 15 de Abril. Decorrentes das auditorias foram elaborados Planos de Racionalização de Energia que foram submetidos à ADENE e que definem uma série de medidas que irão ser implementadas a curto prazo, tais como: ampliação do sistema de registo interno de consumos energéticos parciais, melhorias no sistema de circulação de água no lago, modificação do sistema de despoeiramento das linhas de triagem, entre outras. Não temos dúvidas que, com a implementação destas medidas, a LIPOR irá melhorar o seu desempenho energético.

Ainda no âmbito da eficiência energética, a Organização prevê a implementação, a médio prazo, da norma ISO 50001:2011 “Energy management systems – Requirements with guidance for use” (Sistemas de gestão de energia – requisitos e orientações para utilização).


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