O regresso da chuva está a ser para já insuficiente para atenuar os efeitos da falta de água nas barragens, que nesta altura do ano estão a registar níveis abaixo do normal. Esta falta de recursos para produção hídrica, que entre Janeiro e Março caiu 75,9% e continuou abaixo dos mínimos dos últimos 10 anos, de acordo com os números da REN (Rede Eléctrica Nacional), está a ter como principal contrapartida um forte aumento dos megawatts comprados a Espanha.
Se tivermos em conta apenas as importações, estas representam já a segunda maior fonte de electricidade para o país, com um peso de 18% do total, depois de terem disparado mais de 250% entre Janeiro e Março, face ao mesmo período do ano passado - quando as barragens tinham níveis de armazenamento acima do que é costume. Já o saldo importador fica um pouco abaixo, uma vez que Portugal também vendeu electricidade a Espanha - uns meros 66 gigawatts/hora, o que representou uma quebra de 91,6% face aos números do primeiro trimestre de 2011. Só em 2008 se tinha registado um montante tão elevado de compras de electricidade ao outro lado da fronteira. Desde esse ano, no entanto, a tendência passou a ser a inversa. Nos dois últimos anos, aliás, o saldo do primeiro trimestre, nas trocas luso-espanholas de electricidade, tinha dado positivo para Portugal.
No que é que se reflectem essas diferenças? Antes de mais, a não ser que chova durante todo o Verão, prevê-se um aumento do custo da electricidade consumida em Portugal. Isto numa altura em que se está a preparar a extinção das tarifas reguladas para os consumidores domésticos (no final deste ano) e que as regras são para aproximar o mais possível a factura dos custos reais.
Uma fatia significativa deste aumento deve-se às importações de Espanha, que terão representado mais de 120 milhões de euros para a factura energética entre Janeiro e Março. Isto tendo em conta que o valor médio do megawatt/hora (mwh) no mercado ibérico de electricidade foi de 51 euros nesse período - mais sete euros do que no primeiro trimestre de 2011.
Mas além das compras ao exterior, também o peso do carvão na electricidade produzida tem vindo a aumentar nestes primeiros meses. Este combustível fóssil, que é importado, voltou, aliás, a ser a principal fonte de produção eléctrica em Portugal, com um peso de quase um quarto no total registado desde o início do ano e até ao final de Março. Essa é uma situação que não se fazia sentir desde 2006, e que ganha importância quando se sabe que 2012 será o último ano em que as emissões de carbono para a atmosfera não têm de ser pagas.
Em contrapartida, Portugal está agora a consumir menos gás natural para produzir electricidade - uma descida de 30% face ao que tinha acontecido durante os primeiros três meses do ano anterior, facto ao qual não será alheio o aumento de preços deste combustível fóssil nos mercados internacionias. Isto porque os contratos de compra de gás à Nigéria e à Argélia estão tradicionalmente indexados ao custo internacional do barril de petróleo Brent e este tem vindo a subir de forma acentuada, sendo ainda para mais penalizado pela progressiva desvalorização do euro face ao dólar, a divisa a que é cotado nos mercados.
Menos vento, mais sol
O vento também não está a soprar com tanta força como sucedeu nos últimos dois anos, o que se traduz numa descida de quase 10% da produção de origem eólica. Ainda assim, esta está a ser a terceira fonte mais importante de electricidade em Portugal, com um peso de 17,4% na produção total, e que ajuda a aligeirar a balança de trocas comerciais com o exterior. Muito menor é o peso do fotovoltaico, que representa apenas 0,5% da electricidade total, mas a verdade é que tem vindo a subir a um ritmo impressionante. Ajudados pela falta de chuva e pelo Inverno de céu limpo que se fez sentir nos primeiros meses do ano, os parques fotovoltaicos tiveram uma subida de 72,09% na produção.
Já o consumo de energia eléctrica, à semelhança do que está a suceder com o consumo em geral e com os combustíveis, continuou a cair. Entre Janeiro e Março, deu-se uma descida de 4% face aos primeiros três meses do ano passado.
Fonte: Público
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